Categorias: Cavalos

Dicas para manejo de equinos

Cavalo não é vaca, mas ainda há muitas pessoas que teimam em fazer manejo de equinos da mesma forma que fazem o manejo do gado.

Na maioria das propriedades voltadas à criação de equinos, o mal mais comum que atormenta os proprietários, treinadores e tratadores é a cólica.

Todos os criadores já passaram por situações onde algum de seus animais sofreram com esse tipo de problema.

Normalmente, quem é indicada como culpada por desencadear esse problema é sempre a ração. Mas veremos que uma série de fatores pode levar a essas condições, que na maioria das vezes, erros simples e corriqueiros no manejo diário são os responsáveis por desencadear esse e outros problemas.

Mas antes é importante lembrar porque a nutrição de equinos é tão especifica e algumas diferenças no trato digestório guardam a chave para que fiquemos atentos a esses cuidados.

Os cavalos estabulados são suscetíveis aos vícios e ao estresse e por isso devem ser mantidos sob observação constante.

Equinos e o sistema digestório

Uma série de particularidades, no trato digestório de equinos, exige cuidados especiais para sua nutrição, ainda que a tropa seja criada a pasto.

Iniciando pela boca, umas das particularidades do equino é a altura de pastejo.

Equinos têm o hábito de pastejo muito rente ao solo. Ele seleciona os brotos e as folhas mais novas.

É muito comum em piquetes mal manejados, áreas com gramas mais altas e com excesso de pastejo, exatamente devido a essa seleção na hora de pastejar.

A dentição dos animais

Fator que precisa ser acompanhado periodicamente, é preciso avaliar se os dentes estão sem pontas grosseiras que possam estar machucando-o.

Caso seja necessário, deve-se chamar um profissional especializado para fazer essas avaliações e efetuar a correção.

Estômago

Outras duas particularidades no trato digestório de equinos estão no estômago, que é relativamente pequeno se comparado ao tamanho do cavalo e no intestino delgado, que apresenta uma taxa de passagem alta.

Esses fatores são relevantes, pois interferem no tempo de retenção do alimento. Isso é importante principalmente quando se refere ao fornecimento da ração.

Por isso, que se recomenda o fracionamento do seu fornecimento. Quanto mais fracionada, maior será seu aproveitamento e menor as chances de ser mal digerida quando chegar ao Intestino Grosso e fermentar.

“O manejo diário, seguindo a rotina com horários certos para o fornecimento da comida, treinamento, banho, entre outras ações, ajuda na redução do estresse de baia”.

O Intestino Grosso de equinos é onde ocorre a fermentação dos alimentos, neste compartimento acontece a degradação e o aproveitamento do capim realizada pelos microrganismos intestinais.

Essa simbiose é importante na nutrição equina e é a partir dela que equinos e bovinos possuem a capacidade de ser herbívoros. Nesse compartimento, uma das características é o grande volume hídrico.

Essa alta concentração de água no Intestino Grosso de equinos, entre outras funções, funciona como uma caixa d’agua, sempre que o animal precisa de água por alguma razão e não tem acesso a bebedouros. É nesse compartimento que ele irá retirar parte da água que precisa para manter-se.

Essas são apenas algumas das diferenças que os equinos apresentam. O que é importante lembrar é que tudo está interligado e pequenos erros de manejos podem influenciar em toda uma cadeia muito bem organizada e isso pode atrapalhar o desempenho de seu animal.

Erros comuns de manejo

Uma palavra é fundamental no dicionário de quem lida com cavalos: “rotina”.

Fazer o manejo diariamente, seguindo uma rotina com horários certos para o fornecimento da comida, para o treinamento, banho, entre outras ações, ajuda muito na redução do risco de distúrbios e até mesmo na redução do estresse de baia, além de ajudar a identificar quando algo não está bem com alguns dos animais.

O ditado: “É o olho do dono que engorda o gado” deve ser utilizado no manejo de equinos de forma cada vez mais atenta.

Mas não podemos deixar a rotina nos afetar e passar a exercer o trabalho de forma mecânica. Executá-lo desta maneira pode ser citada como a primeira ação para iniciar um manejo errado.

Deve-se tomar cuidado principalmente com animais mantidos em baias, que são susceptíveis aos vícios e ao estresse e por isso devem ser mantidos sob observação constante.

Quando realizamos o trabalho de forma mecânica, não observamos sinais claros que, muitas vezes, estão a nossa frente. Por isso, é sempre importante observar se os animais estão comendo, se estão ingerindo água e principalmente se estão com dor de qualquer tipo.

Cavalo com dor não come normalmente e tende a apresentar perda de peso.

Com relação à cólica, é extremamente importante deixar claro que há os mais variados tipos e que ela pode surgir a partir dos mais variados estopins.

1) Não fracionar o fornecimento de ração durante o dia

Devido ao estomago relativamente pequeno e a taxa de passagem alta no Intestino Delgado, quanto maior a quantidade de ração fornecida por refeição, pior é seu aproveitamento.

Fornecer volume grande de ração em uma única refeição reduz a eficiência da ação gástrica e a taxa de absorção dos nutrientes no Intestino Delgado.

As chances dessa ração mal digerida chegar ao Intestino Grosso, fermentar e criar um quadro de cólica é muito alta. Dessa forma, é extremamente importante ter em mente que, quanto maior for o volume de ração que você queira fornecer para seu cavalo, maior deve ser o número de vezes que deverá fracionar o seu fornecimento ao longo do dia.

O fornecimento de muita ração em uma única refeição reduz a eficiência da ação gástrica.

2) Não respeitar um período mínimo entre o fornecimento de ração e o fornecimento do feno

Após o fornecimento de ração deve-se aguardar um período de pelo menos uma a uma hora e meia para o fornecimento do feno. Isso porque o processo de digestão e a absorção dos nutrientes da ração, que deve ser realizada no Intestino Delgado, precisam de um tempo mínimo para ocorrer.

Quando fornecemos o feno (fibra), ele aumenta mais ainda a taxa de passagem neste compartimento e funciona como uma “vassoura”, arrastando todo alimento desse compartimento para o Intestino Grosso e aumentando o risco deste alimento fermentar e criar um quadro de cólica.

Após ingerir a ração deve-se aguardar um período de pelo menos uma a uma hora e meia para o fornecimento do feno.

3) Fornecer muita ração e pouca quantidade de feno

Como foi dito anteriormente, equinos são animais herbívoros e o feno deve fazer parte de sua vida.

A relação mínima e segura que deve haver entre o fornecimento da ração e do feno é de no mínimo 50/50. Ou seja, se o consumo diário por equino for de 4Kg de ração, seu consumo de feno deve ser no mínimo de 4kg ou mais.

4) Deixar o animal sem água por um longo período de tempo

Esse é um problema que parece tolo, mas que é muito frequente.

Como foi dito anteriormente o Intestino Grosso tem um grande volume hídrico e precisa dele para funcionar adequadamente.

Quando ele cai, isso pode influenciar de forma negativa em todo ecossistema intestinal.

Deve-se ter um cuidado especial com animais mantidos em piquetes com bebedouros que exigem ser enchidos manualmente.

Muitas vezes os animais derrubam os bebedouros, derramando toda a água e ficando por um longo período sem ela.

Isso pode ser prejudicial para o animal, principalmente em dias quentes e quando mantidos em piquetes não sombreados. Muitas vezes, o animal para de comer como reflexo do período sem água.

Os bebedouros automáticos são ótimos, pois se mantêm sempre cheios e facilitam a vida dos tratadores.

Contudo, atenção especial deve ser dada aos animais mantidos em baias e piquetes com esse tipo de bebedouro, pois deve-se observar se eles estão de fato consumindo água. Inúmeros fatores podem influenciar no consumo e observar essa alteração comportamental podem fazer a diferença, antes que algo mais grave aconteça.

Em alguns eventos é comum os competidores deixarem os animais por longos períodos presos a árvores ou trailers sem acesso a água. Sem a mínima noção de como isso pode ser prejudicial a eles.

Se seu cavalo não está aquecendo e nem competindo, deixe-o em um local adequado com acesso a água. Se esses animais foram mantidos em dietas hiperproteicas podem apresentar um quadro de desidratação ainda mais acelerada.

O consumo hídrico é um indicativo extremamente importante sobre a saúde de seu animal, pode ser um sinal claro de que algo não vai bem. Várias alterações podem influenciar no consumo de água, então é bom ficar muito atento a isso.

Animais adultos mantidos com dietas hiperproteicas, que não estão gestando ou amamentado e são mantidos com rações com teor acima de 14% de proteína bruta ou com feno de alfafa (principalmente) como única fonte de volumoso, apresentam um consumo hídrico maior e consequentemente produção maior de urina. Isso ocorre porque todo excesso, no caso a proteína, precisa ser excretada na urina.

Isso vai interferir de forma negativa para o animal, pois a tendência é de ter a baia sempre úmida e não é preciso nem relatar o quanto uma baia nesse estado pode ser ruim para seu cavalo. Além disso, essa excreção exige um gasto energético que poderia ser utilizada para melhorar o seu desempenho.

Em caso de dúvidas, consulte um zootecnista especializado em nutrição equina para verificar e até mesmo balancear a dieta.

5 – Animais soltos em piquetes com pastagens novas

É comum no início das estações de chuva alguns animais mantidos em piquetes apresentarem quadros de diarreia e até mesmo casos de cólica. Isso ocorre porque, como foi dito antes, os equinos selecionam os capins mais novos, quem contém em sua composição substâncias altamente fermentáveis, além de teor maior de proteína e água.

Para evitar esse tipo de ocorrência, deve ser organizado um esquema de entrada e saída de animais nos piquetes, padronizando-se uma altura de entrada, que pode variar em função da espécie forrageira.

Os casos citados acima são apenas alguns erros comuns, muitas vezes cometidos sem querer, mas que podem ser facilmente corrigidos no manejo diário. A principal ação é identificar onde está o erro no manejo e corrigi-lo.

Animais criados com foco nas competições, são e devem ser tratados como atletas.

Uma das recomendações para qualquer atleta é uma vida regrada, seja em sua rotina de trabalho quanto em sua rotina nutricional.

Ele não tem culpa se por alguma razão dormimos mal durante a noite e não respeitamos seu horário de alimentação e manejo.

A nutrição adequada dos equinos é extremamente importante para um bom desempenho em toda fase produtiva.

Escolha uma ração e um feno de boa qualidade para seus animais. Um bom resultado entra pela boca. Mas a nutrição não é tudo, ela é uma parte importante do todo.

Deve ser associada a uma rotina rigorosa de treinamento. Esse é o segredo para todo campeão.

Em caso de dúvida, consulte sempre um zootecnista especializado em nutrição equina, que poderá oferecer a melhor assessoria e esclarecer suas dúvidas com relação a melhor dieta e manejo nutricional para sua propriedade.

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